Por um pouco mais de tolerância religiosa

por Maris Stella Schiavo Novaes**


Discutir a respeito da diversidade religiosa em Vitória da Conquista. Parece ter sido essa a idéia inicial proposta por Saulo Moreno em uma comunidade no site do orkut.



Todavia, como é próprio da idade, afinal, ele ainda é um adolescente, a questão surgiu de forma provocativa e acirrou os ânimos pró e contra a temática levantada. Até aí nada demais, onde tem gente confabulando e expondo opiniões, a discórdia reina.




No debate há dois grupos predominantes: os defensores dos evangélicos e os das religiões afro-ameríndias como candomblé e umbanda. Há um terceiro grupo do qual faço parte. Silencioso, mas, significativo: os observadores.

De parte a parte, os debatedores com raras excessões, demonstram ser pessoas devotadas e estudiosas de suas crenças. No entanto, os discursos são focados em uma estranha racionalidade competitiva, com muitos argumentos formalizados de forma agressiva e desrespeitosa à crença do outro.



Estranho isso! 


São representantes das religiões que professam. Em sentido lato deveriam religar, aproveitar um espaço tão público para que suas mensagens de fé e esperança em suas crenças sejam pelo menos um atrativo para os que estão fora delas. Talvez quem sabe, apresentar suas doutrinas… Contudo, a verborragia em tom tão áspero afasta ainda mais aos que transitam pela existência sem religião definida. Faltou tolerância. Prevaleceu a impetuosidade adolescente do proponente da questão.

Penso que a deficiência em se manter uma linha dialógica de respeito e cooperação esteja na falta de amadurecimento tão comum em nossos dias. Mas também, pode ser que esteja, na falta de educação em casa aliada à formação educacional que ainda não habilitam o ser humano para lidar adequadamente com a Diversidade.

O discurso está posto na atualidade, mas ainda é um caldeirão fervente. Quanto tempo será preciso para que essa fervura ceda, é coisa que ninguém pode precisar. Todavia, naquela arena entre neófitos e religiosos, o traço geral que se percebe mais, em algumas falas, são fanatismos e extremismos de ambas as partes. A despeito de que é preciso levar em conta que discutir sobre religião nunca foi tarefa fácil.

A reflexão sobre essa temática me motivou a redigir este artigo com a idéia de pensar sobre a importância de uma vivência intercultural que seja de fato amparada pelo respeito à cultura da igualdade de direitos. Afinal, o fazer humano é desdobramento de múltiplas e complexas inter-relações que se originam nas práticas individuais e coletivas. Na seara do humano, já está mais que demonstrado pela história que imposições de sentido não funcionam. Pois, é próprio do sentido de humanidade a infinita capacidade de reificar e ressignificar as coisas. É esta perspectiva que se precisa buscar compreender e exercitar.
A tolerância religiosa, a aceitação da convivência na diversidade deveria ser um debate interno nas religiões para que seus seguidores tenham a capacidade de compreensão e exercício a ser demonstrado na prática cotidiana e no saudável confronto de idéias com o outro. Isto feito, representaria um importante canal de comunicação social para atuar no combate à xenofobia e fanatismos. Que infelizmente se apresentam como um ingrediente apimentado nesse caldeirão fervente tão em voga atualmente que parece permanentemente temperado por mãos adolescentes.

**Maris Stella Schiavo Novaes é Presidente da Ong Carreiro de Tropa – Catrop, Coordenadora do Núcleo de História, Cultura e Memória da Catrop; Licenciada em História pela Uesb de Vitória da Conquista Bahia; Com pós-graduação em Educação, Cultura e Memória, pelo Museu Pedagógico/Uesb. 

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4 comentários sobre “Por um pouco mais de tolerância religiosa

  1. Hoje, o que se vê é preconceito de se ter preconceito. Fato, todos somos preconceituosos, faz parte da natureza humana conceber idéias “vendo a capa do livro” ou seguindo a maré do “maria-vai-com-as-outras”. O que não é da natureza humana é perceber imperfeições e achar que deve mantê-las. Sou a favor de que cada um lute dentro de si contra esses ranços de intolerância histórica, institucional, religiosa, contra a diversidade sexual, política, enfim. Multipluraridade!!! Respeito acima de tudo!

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