História De Um Contador Especial De Boiadas Nas Estradas Da Região Sudoeste/BA.

por Carlito Lisboa**

O ano 1922 o destemido contador de Boiadas, Manoel Lisboa, viajava longas distâncias no lombo do seu cavalo muito bem cuidado com uma linda cela toda envernizada pelo o próprio nos dias da sua folga, e com o passar dos tempos, chega o ano, 1933 em que nasce o seu segundo filho que recebeu o nome de Francisco Lisboa, em homenagem a São Francisco de Assis, e foi a este pequeno filho que o Sr. Manoel Lisboa contava várias histórias dos acontecimentos nas viagens em que ele enquanto contador de bois, vacas e bezerros, vivia e presenciava junto a uma grande tropa de trabalhadores da pecuária conquistense e regional.

O pequeno Francisco Lisboa, cresceu e já na fase adulta veio à se casar no ano de 1954, com a linda Maria Rocha Santos na fazenda Peri-Peri em Vitoria da Conquista dando aos seus pais, (Manoel Lisboa e Tibúrcia Silvina), oito netos, de modo que o avó gostava de brincar com todos os seus netos, que inclusive nesta ocasião ele já não trabalhava mas como contador de boiadas, ficando apenas as muitas Histórias de uma época de muito trabalhos, viagens e conhecimentos. Foi no ano de 1967 que o Patriarca Manoel Lisboa veio a falecer na fazenda Peri-Peri, deixando um legado de boa conduta no que diz respeito à realização dos trabalhos com honestidade, compromisso e determinação e respeito. (nasceram posteriormente mais três netos “do casal, Francisco e Maria” os quais ele não conheceu devido o prematuro falecimento do mesmo; igualmente muitos outros netos e bisnetos que chagaram após, sobre tudo dos seus outros filhos: duas mulheres e um filho o caçula “como era carinhosamente chamados os ultimos filhos das proles).


O filho segundo, deste extraordinário contador de boiadas contou para a sua prole às melhores Histórias que ele tinha ouvido e aprendido com o seu estimado pai. Na qualidade de Neto do reservado Manoel Lisboa e de filho do conselheiro e amigo, Francisco Lisboa, “descrevo aqui algumas Histórias que envolvia o meu avô diretamente), o meu pai conta que em uma fazenda na região de Conquista o meu avô estava à posto, sentado sobre uma cancela de curral contando os gados que passavam em um corredor improvisado pelos os demais companheiros vaqueiros, e na medida em que a manada de bois e vacas iam passando ele contava em números de três, quatros até seis de vez, a concentração dele nas contagens era tão precisa que dificilmente ele errava.

A ponto de alguns fazendeiros até fazerem apostas para ver as quantas andavam os acertos do seu contador de boiadas, em um determinado dia de mais uma contagem de uma grande manada de gados quando já no meio da passagem dos bois e vacas o dono de uma manada jogou um couro de boi durante a passagem do gado para testar os reflexos do seu contador e fez isto mais algumas vezes e outras, e na medida que, em alta velocidade o gado ia passando: Quando terminou a manada a quantidade de gados concordava com todas as contagens de dias anteriores e de quebra o meu avô tirava à conta de quantos couros sêcos de boi foram jogados durante a contagem do gado vivo realizados por ele, este fato era motivo de grande repercussão nas fazendas da época devido a atenção e a precisão nas contagens das manadas.

Meu pai conta que o pai dele fez inúmeras viagens no lômbo do seu próprio cavalo que ele cuidava com muito carinho, e que também ele costumava usar durante às viagens uma capa colonial que era a principal vestimenta dos tropeiros da citada época que faziam longas viagens por todo interior do Estado da Bahia, o meu pai conta também que o meu avô já acompanhou tropas de vaqueiros com grandes manadas de gados até a distante Cidade de Feira de Santana, quando ainda não existia a famosa.

 “BR. Rio/Bahia”, sendo a estrada toda de chão e quando chuvia o lamaceiro era certo e quando sêco o poeirão também era certo, e quando se desviava um boi ou uma vaca ou pequenos grupos de ambos alguns vaqueiros eram escolhidos para correr atrás e buscar trazendo os mesmos até o acampamento aonde constantemente eles acampavam para passar as longas noites de frio e garôa que era também constante naquela época.

Os grupos de homens trabalhadores com este tipo de trabalhos ficavam até mêses fora de casa em viagens de idas e vindas, de modo que todas às vezes que o meu avô retornava para sua casa era uma festa particular para o pequeno coração do meu pai, estes são detalhes que ele guarda na sua memória até os dias de hoje! Já com quase oitenta anos de idade e estas memórias ele tem compartilhado conosco desde tenra idade das nossas vidas, memórias estas que também trago no meu coração e sinto na obrigação de escrevê-las para também compartilhar com todas e todos que realmente gostam de Histórias e contos de uma época de homens e mulheres que muito contribuíram para o engrandecimento e a honra de se trabalhar e de serem trabalhadores responsáveis, honestos e dedicados.

E para que hoje, todos tivéssemos melhores oportunidades de estudos e conseqüentemente melhores condições de vida já que foram eles que com muita coragem, esforços e determinação; abriram estradas de chão batido viajando no lômbo de mulas, cavalos e jumentos, transportando a pé cargas e grandes manadas de gados e outras criações, dando dessa forma origens ao que hoje conhecemos como: Grandes corredores rodoviários e grandes rodovias bem asfaltadas e sinalizadas, transpostando pessoas e cargas em: Onibuns sofisticados e transportadoras com excelentes caminhões e carretas com GPS, etc. E  logísticas específicas para o fluir do moderno progresso. “Que apropósito na época passada; eles faziam sem comprometer o meio ambiente, respeitando os matos e os bichos”, e que infelizmente hoje os homens ditos civilizados, moderno e pós modernos tem manchado, (estas lindas Histórias de heroísmos e respeito ao nosso habitat natural), não respeitando sobre tudo a manutenção das nossas florestas, da fauna, rios, lagos… Em nome de um progresso de egíosmo, destruições e hipocrisias…


Dedico esta singela Crônica às memórias de todos os homens e mulheres que fizeram do fato de serem Tropeiros em trabalhos árduos, porém: Digno e importante para as futuras gerações, e também dedico a todos que fazem parte da Catrop. Que tem feito com muito esforço e carinho os registros destes belíssimos anos nas vidas dos Tropeiros que foram brilhantes trabalhadores em uma época de pouquíssimos recursos e em um ambiente hostil e desafiador.



Um comentário sobre “História De Um Contador Especial De Boiadas Nas Estradas Da Região Sudoeste/BA.

  1. Reconheço que sou suspeito em fazer um comentário específico relacionado a Crônica acima, porém gostaria de parabenizar e ressaltar a grande importancia do trabalho de toda à competente equipe da Catrop, sobre tudo no que diz respeito: Na preservação e manutenção das memórias, “dos ditos e feitos” destes simples e corajosos pioneiros e pioneiras que fizeram histórias em Conquista na Região Sudoeste da Bahia e Brasil.

    Carlito Lisboa- VDC. 20 de Dezembro de 2011.

    Curtir

Deixe um comentário